Antes de tudo aviso que sou otimista! E que este blog não será um painel de lamúrias ou de rancores. Mas aos vinte anos de selo, problemas muitos, algumas vezes a gente pensa em desistir de nossos sonhos.
Os motivos são vários, e individuais. E as pessoas não costumam gostar de expor isso. Mas eu gosto. E só posso falar pela minha própria experiência.
Há 23 anos estou na Indústria Fonográfica, mas comecei mesmo a trabalhar em Comunicação aos 14 anos como jornalista mirim de tablóide de circulação dirigida e gratuita – tremenda escola que havia nos anos 80 e 90, na minha cidade. A mesma cidade de Ronnie Von, Fernanda Young, Sergio Mendes, Leila Diniz.
Naqueles tempos um pré adolescente engraçadinho assim já ia pra fogueira cedo, haha. Na primeira vez que fui fazer uma cobertura jornalística num show, na Região Oceânica de Niterói – ironicamente o bar se chamava Nó na Madeira, – levei um “amigo” que saiu depois de mim na mesa reservada em meu nome, levando o dinheiro de todos e dando calote na casa de shows. Logicamente que respingou em mim, no jornal que eu estava assinando uma pequena coluna cultural, pequeno que eu era em 89. Bela puxada de tapete logo de entrada, pra começar a vida profissional e já ficar esperto com a maldade do mundo.
Inúmeras vezes chefes me impediram de realizar. Incontáveis vezes fui escada alheia sem saber. Era o doce vampiro sugando! O fogo amigo pegando. Abri uns caminhos por ai, promovi networking que ficou pra vida inteira com alguns profissionais de patente alta e bigode grosso! Usei meu know how para dar conselhos, adiantar e acelerar a vida de todos ao meu redor, sempre sendo o máximo cordial e solícito possível. Isso me deixa em paz, mesmo que tenha sido doloroso às vezes.
Alguns mal sabem o que é um label manager e já vira aquele pseudo-guru-referencia (sic), mas é pastel de vento! Já estou nessa faz duas décadas, acaba ficando mais difícil também pra quem tenta! Fui um idiota? Muitas vezes a gente pensa que sim, mas na verdade fui trabalhador ético.
A nobreza está no ato de doar seu contato, seu conhecimento, se alguém precisa. Porém é necessário um equilíbrio, pois se você SEMPRE oferece gratuitamente o que merece remuneração. Os valores se tornam invertidos. Você ajuda o outro e se atrapalha. A classe médica, por exemplo, é muito unida e faz correto! Gastam tubos de dinheiro pra se formar e especializar, e depois cobram caro a consulta, por exemplo.
Entre idiotas e nobres, me situo apenas como um trabalhador.
Mas essa muita dedicação a esse oficio também me fez ouvir toda sorte de viagens, abobrinhas, loucuras, comédias e verdades acachapantes que vocês possam imaginar. Pelo menos é emocionante, haha, não tem monotonia alguma nesse job.
Só que é com muito investimento direto e indireto que um profissional começa a ter algum valor. Demora. E a gente também paga com dificuldade (quando está sem renda) os custos de sala comercial, condomínio, equipe, encargos, IPTU, luz, gás, telefones, web, transporte e alimentação para trabalhar o seu material artístico! Isso tudo em um país que não te apóia, extingue o Ministério da Cultura e persegue a Ancine. Retira impostos e cobra mais.
É justo que a gente receba por isso. Um trabalho digno. De produtor, de músico, do artista ao cenógrafo e figurinista. Iluminador, engenheiro de áudio, camareiro. Tem muita gente trabalhando nisso!
Depois de tanta puxada de tapete, pernada, falsidade, ingratidão, incompreensão, inversão de valores e decepção total em diversos níveis da carreira – com pessoas, empregos, executivos, artistas e o próprio país – fica difícil não pensar em desistir. Mas a gente olha o copo mais cheio, e agradece pelo que foi presente, benção e brinde! Foram muitos momentos completamente únicos, exclusivos, loucos, divertidos, sensacionais e tristes demais – e que ninguém poderá voltar atrás pra viver por mim! Viveu, ta vivido!
A desistência é um ato de covardia e a persistência significa força e resiliência. Tem mais a ver comigo. Por isso a Astronauta Discos surgiu em 1999 e está ai, resistindo até hoje.
Quando mergulhamos e a onda vem em direção à nossa cabeça, melhor é mergulhar de novo e furar a onda. E mais uma… e mais uma… eis o segredo do sucesso: não é fama, dinheiro e glória. É constância! Continuar no seu caminho, mesmo que uns e outros insistam em te desviar. Mesmo que as pessoas te mandem dois papos, ou vendam dificuldade pra criar facilidade. E vice-versa. Temos que enxergar além disso, tentando eliminar logo de cara essas “miragens” que poderiam parecer maravilhosas, mas na verdade tinham tudo para ser uma dor de cabeça no futuro.
O que não mata, fortalece! Vamos q vamos! Só acaba quando termina! Até a próxima viagem!