blog março 2021 - astro

E quando o abusivo é o artista?

Hoje vamos falar de mais um tema polêmico: artistas que se aproximam de produtores, managers, patrocinadores, escritórios e gravadoras com comportamentos abusivos e visões distorcidas.

No passado a indústria da música no Brasil criou um monstro: ela pagava tudo, era investidor único e não misto, deixava o artista em situação de co-dependência. Por isso algumas discografias de grandes ídolos contêm aberrações, os famosos “discos do ano para cumprir contrato”. Tinha que fazer até pra ter dinheiro pra manter o padrão de vida e de celebridade.

O mito não ficou no passado, veio de geração em geração e a desinformação só está melhorando agora, com a geração nativa digital — acostumada do início a assinar música, e não a comprar físico. E que viu a queda da indústria de ontem e o surgimento do way of life de hoje.

—  Multinacional só rouba a gente!

— É isso aí, tem que zoar tudo como o Sex Pistols fez na música “EMI”.
— Produtores são descartáveis, quando a gente conquista público tudo muda.
— Se deu certo é porque sou um bom artista. Sorte do produtor que estiver comigo.

Os tempos são outros. Produtor e Diretor também são artistas. E cada vez mais. Vivemos tempos do ajuste correto, da cultura do cancelamento e da luta contra desigualdades.

Dentro da Indústria da Música é muito comum a história que vou lhes contar. Uma clássica situação abusiva é quando um novo artista, ainda fora da indústria, olha para seu selo ou gravadora, vê quem são seus parceiros (artistas, multinacionais, empresários), vê a divulgação de sua empresa na mídia e conclui que você é um alvo. A pessoa fica te stalkeando até conseguir contato. Finalmente você olha pra este artista, assina com ele e aí já era: caiu no golpe. O artista não queria sua direção, seu expertise, não queria batalhar junto. Apenas desejava usar sua estrutura ao redor para passar por você como quem passa por uma ponte para chegar do outro lado. Quando não é pior: já chega com a intenção de arrumar um problema pra tentar ganhar grana de você na justiça. O nome disso é má fé.

Quando um artista assim passa pelo seu escritório ou selo, o melhor que você faz é detectar o mais rápido possível e liberá-lo. Foda-se se ele vai ficar famoso um dia, virar rentável e você vai perder dinheiro. Claro, seu contrato prevê multa e você pode fazer um acordo onde deixa de ganhar, mas nunca perder 100%. Afinal, você o lançou! Ninguém tá aqui pra trabalhar de graça e muito menos ser feito de bobo. Em seu contrato estabeleça uma multa. Você certamente prefere sua liberdade e paz a ficar preso a alguém que te usou indevidamente, não é?

Tem o caso clássico de um amigo produtor desta indústria e que, nos anos 90, descobriu uma cantora para um selo ligado a uma emissora. Fez tudo: lobby, negociou contrato, etc. A artista era um “anjo”. Melhor amiga. Depois de todos os acertos, a cantora começou a agir com ele como se ele fosse um lacaio, e ela, a estrela. Resultado: ele rasgou o contrato que tinha na cara dela, a deixou lá na empresa e seguiu sua vida. Hoje ela é um nome estabelecido da MPB. Ele é um produtor conhecido no meio, mas não sobressaiu com sua descoberta.

O abuso do outro começa onde termina o seu amor próprio.

Pois é, gente! É dura a vida da bailarina, pé ante pé, pulando por aí com beleza e destreza. Sempre em nome da arte. Feliz ano novo musical pra você, leitor, e que 2021 seja bem melhor que o ano passado.


TRILHA SONORA DO POST

Dançar Pra Não Dançar (Rita Lee), parte integrante do álbum Fruto Proibido (1975) e  produzida por Andy Mill. Lançado originalmente pela Somlivre.

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