ilustração texto blog - outubro 2020

A Polêmica de Kanye West e os reflexos no Brasil

A indústria fonográfica recentemente se viu perplexa com as atitudes do artista Kanye West. Além de expor contratos que são modelo de mercado sigilosos, mijou no Grammy e “causou” geral. Isso tudo apesar da sua já diagnosticada bipolaridade e da bola fora que foi seu apoio político ao Trump.

Claro, pra um artista do tamanho dele (e que só é grande por conta da indústria, convenhamos!) é mais uma ação que mostra de onde vem o golpe. E torna-se um arriscado marketing para sua carreira. Este texto não se trata de uma defesa classicista ao patrão, mas sim do reconhecimento de que um trabalhador cultural precisa (não só, mas também) dele para seguir em frente.

Lógico que é valido discutir clausula, ou situação que cause incômodo na relação profissional. Porém, de maneira justa e ética. Se um selo lhe achou, contratou, expôs na vitrine, fez acordo com você e sua carreira vai levar uns cinco anos para dar retorno financeiro, qual a razão de você querer quebrar um contrato? O selo fica com o osso e você, com a carne? Faz a parte chata e você posa pra foto? Se te explicaram os termos; se ninguém colocou uma arma na sua cabeça pra você assinar; e sua ambição coincidiu com a porta que lhe foi aberta numa empresa dessas (Universal, Sony, Warner, tanto faz!), porque se revoltar e prejudicar quem deu visibilidade da sua arte para a indústria?

Foi-se o tempo em que bandas como Sex Pistols se revoltavam contra conglomerados já extintos, como a EMI. Era monopólio, hoje já mudou. Tanto que o crescimento das independentes, autogestores e agregadoras esta ai. Ciclos se repetem com atopres diferentes em épocas outras. O mercado do vinil e do CD morreu e renasceu digital, onde as majors podem aplicar dinheiro e expertise de novo, gerando mudança real de patamar. Funciona mais como uma agência parceira.

Quando se gerencia a carreira de um artista hoje em dia somos obrigados a muitas vezes lidar com, além dos tradicionais ego e ansiedade, insubordinação ao seu direcionamento. Amigos, quando se trata de um gerenciamento/direcionamento, é claro que é preciso seguir as estratégias do diretor. Não é autoritarismo, é para seu bem. Claro que se não o fizer, não vai alcançar o que deseja.

Muito artista sem experiência também confunde consultoria com produção. Direção com investimento. Em suas cabeças acham que, porque um consultor gerencia sua carreira 360, se torna automaticamente responsável por produzir e bancar suas peças: clipes, músicas, fotos, banners. E é claro que depende do acordo.

Geralmente é o consultor que dá o caminho para o produtor e o artista agirem, e entregarem de volta e nos padrões, ao consultor (ou selo, ou agência, ou escritório de produção). Já falamos disso no texto do mês passado.

Se não houver uma mudança de mindset do artista, ele não usará expertise do selo e dos parceiros, estará sempre promovendo crises que tendem a continuar, já que ele não aceita o erro que cometeu. As vezes fica ouvindo supostos especialistas, que so confundem mais. Decidem que vão ter alguém para culpar pela sua impossibilidade de funcionar no showbis. E infelizmente quando é inviável, é preciso demitir para seguir em frente.

Kanye West pode até misturar suas reivindicações com racismo, se autonomear “Moisés”, tentar envolver outros artistas e até seguir o que Prince fez, de maneira muito mais inteligente há três décadas, até fechar o acordo com a Warner.

Inclusive a chance de West se sair bem ao criticar a estrutura, (claro, uma década após usar a mesma estrutura que agora critica para se tornar rico e famoso), também existe. Se começar a lançar música da maneira que quiser sendo proprietário dessa nova autoria/gravação, ganha tempo levando seu caso aos tribunais. Porém resta saber se este é um caminho justo e se, na cadeia produtiva, nesta atitude emocionada, ele não está cometendo um grave erro estratégico que pode comprometer toda carreira e ainda afetar os labels managers e A&R envolvidos na sua “descoberta” e seu “contrato”. É preciso muita reflexão (que não parece o caso dele), principalmente quando se trata de um artista iniciante.

Espero ter ajudado a esclarecer ainda mais sobre as deformações, emoções e transformações da indústria e do showbis, ao sabor das ultimas noticias. Desejo que estejam todos bem. #fiqueemcasa e até o próximo mês!

TRILHA SONORA DO POST:

Vou Festejar (Dia/Jorge Aragão Neoci Dias), parte integrante do álbum De Pé No Chão (1978), produzido por Rildo Hora e lançado originalmente pela BMG Ariola (Sony Music).

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