Para quem já está acompanhando este blog não será surpresa nenhuma dizer que comecei no jornalismo musical e evolui para a indústria fonográfica nos anos 90. A ideia desse blog é dar dicas e contar experiências, e muitas delas vivi entre 1994 e 1998. Quatro anos antes de montar o selo Astronauta, em 1999. As aventuras mais doidas e engraçadas foram ao lado da Hemp Family – a galera que orbitava em torno do Planet Hemp entre a Lapa, zona sul e Santa Tereza, no Rio de Janeiro.
Como colunista dos veículos especializados International Magazine e da Showbizz (assinando as colunas sobre novos talentos, Tangerina e Democracia, respectivamente) eu estava sempre nos shows e escrevia muitas criticas de demos e eventos. Veja aqui uma nota na minha coluna de D2 com a diretora Joana Mazzucchelli. Teve um show ao vivo o Funk Fuckers com BNegão na famigerada Sweet Home (casa do mítico Carlinhos Docelar, na Lagoa); teve um show do Planet em Madureira que, a convite do Bacalhau – que era meu vizinho no Jardim Botânico – me aboletei no ônibus da banda, o expresso fumaça. Era um show de ginásio e estava lotado, foi pouco antes da prisão em Brasília. A ida, o show e a volta foram muito legais, eu sempre conversava mais era com o Bacalhau e o Formigão mesmo, mas trocava umas idéias com o Anjinho (segurança) e, sinceramente, não me lembro se o Gustavo Black Alien (que é meu amigo de Niterói) estava na gig. BNegão estava, e se não me engano o técnico de som era o Perazzo. Já são 24 anos nos separando dessas lembranças.
O que este convívio como repórter e brother me deu foi o networking pré-internet. Rolava na época uma festa no Estúdio Totem, local onde ensaiavam sempre o Planet, o Chico Science & Nação Zumbi, O Rappa e outras bandas. Eu ia a todas as festas e, às vezes, aos ensaios! E lá conheci um dia a galera da Squaws. Ao meu ver, a banda mais doida e tecnológica da época, se apropriando de efeitos e técnicas de gravação que, em 1997, eram modernos e pouco usados. Fiquei chapado (literalmente!), eles já estavam com 70% do disco pronto. Ouça aqui o CD.
Toda essa galera junta acabava formando a Hemp Family – termo cunhado por algum jornalista no afã de denominar aquela reunião de loucos que fumavam muita maconha e exalavam espírito de liberdade e juventude, além de músicas muito boas e que indiscutivelmente entraram pra história.
Da Hemp Family a única banda que não tinha contrato com uma multinacional era a Squaws. E eu, que estava recém-chegado como funcionário A&R na PolyGram justamente com esta missão (de descobrir novos nomes jovens) estava de frente para a possibilidade de levar a Squaws pra lá. Nessa época do milagre do CD havia bastante dinheiro para apostas, e me vi na gigante dos discos, como uma espécie de “olheiro”. Frequentei o Skol Rock em Bauru (SP), Abril pro Rock em Recife (PE) e tinha ido muito ao Sul, onde tínhamos parceria com o selo Antídoto – responsável pelo lançamento de Júpiter Maçã, Colarinhos Caóticos, Acústicos e Valvulados e Luciana Pestano. Mas foi no quintal de casa, bebendo umas em Santa Tereza que fui chamado por amigos e pela galera da Squaws para assistir o primeiro show do Farofa Carioca no Largo das Neves, abrindo para o Forroçacana, que era a bola da vez.
O resultado disso, para explicar de maneira bem simples, foi a contratação das DUAS bandas de Santa Tereza que indiquei pro elenco na época: a Squaws, que vinha cumprir o papel mercadológico de ser “o Planet da PolyGram”, já que eu tinha tentado um papo que não evoluiu para levar da Sony a famosa banda maconheira; e o Farofa Carioca, que inicialmente causou um alvoroço e resistência nos departamentos Artístico e de Rádio da PolyGram. Achavam impossível divulgar uma banda com nome tão regional e música mais atemporal do que os lideres de vendas É o Tchan, Padre Marcelo Rossi e Sandy & Jr. Mas, após pressão da presidência da empresa, os artistas foram trabalhados. Squaws teve promoção na MTV levando o fã a Los Angeles e o Farofa Carioca tocou no Free Jazz Festival, o maior da época no Brasil, e lotado de atrações internacionais, além de ganhar o premio APCA pelo disco Moro no Brasil.
Assim lancei (fora do selo Astronauta, que não existia ainda) as primeiras bandas que foram curadas por mim, deixando para trás toda concorrência da indústria, que estava querendo estas duas bandas. Moral da historia: após viajar boa parte do Brasil atrás de novos talentos, os artistas estavam na minha cara, no meu quintal, e eram todos próximos da galera do Planet Hemp.
Espero ter ilustrado um pouco mais da nossa trajetória na indústria e, com isso, ter estimulado a você que é artista, produtor, dono de estúdio ou selo. Até a próxima viagem!